terça-feira, 27 de março de 2012

Kony 2012 - Dissecação Básica

 Ai ai… vamos lá…

Cara… vou ser sincero quando digo que faz muito tempo que quero escrever sobre isso, mas a complexidade e o tamanho do trabalho me fazem dar refugadas de pouco em pouco, mas enfim, acho que é hora!

Ignorância!

Não me levem a mau, mas essa palavra caracteriza um pouco grande parte de todo mundo inclusive de mim... E antes de se sentirem ofendidos eu digo para levarem essa palavra no sentido encontrado no dicionário e não no sentido pejorativo da mesma. A ignorância é caracterizada pela falta de conhecimento sobre algo; Por exemplo, se eu perguntar a uma pessoa se ela sabe as regras para se jogar Golfe, e essa mesma pessoa me responder: “Não”, eu posso afirmar sem nenhum tipo de ofensividade que essa pessoa é ignorante quanto ao funcionamento das regras do Golfe. Assim como eu sou ignorante quanto ao conhecimento para construções de uma casa, regras de Peteca, trabalhar em um editor de vídeo, regras de português e o que acontece na novela das 9.

Toda essa falta de auto-análise e essa mania de opinar sobre absolutamente tudo que aparece faz com que as pessoas achem que tem o direito de criticar ou não qualquer coisa que aparece na mídia sendo ou não ignorantes para com o assunto! Qualquer assunto, de qualquer lugar da forma que bem entenderem! Às vezes eu me pergunto qual é a parte boa da total liberdade de expressão, mas daí eu lembro que a culpa não é da liberdade de expressão, a culpa é da ignorância e da falta de bom senso das pessoas.

Semana retrasada foi lançado um vídeo chamado “Kony 2012”. E nesse momento se esse texto fosse ficar famoso, MUITAS pessoas não leriam o resto e começariam a me xingar nesse exato momento, ou dar as próprias opiniões completamente sem nexo sobre algo que elas nem tentaram analisar ou ler!



O que eu quero fazer com esse vídeo é uma análise sobre ele, “O” vídeo, sobre os acontecimentos pós-vídeo e no comportamento das pessoas para com o vídeo. Então... Mãos a obra...

Eu vou partir do princípio de que quem ler isso, este texto aqui, já viu o tal do vídeo, então não vou comentar sobre o óbvio! O que é o óbvio? O óbvio são as informações diretas dele, tais como: Quem é o Kony, Quem está armando tudo, Quem fez o Vídeo, o que o tal do Kony faz da vida e tudo isso.

Olhando o vídeo pela perspectiva humanitária, ele é simplesmente fantástico. Pelo propósito, pela edição, pelo método de passar a informação e pela execução do projeto. O que resultou obviamente em sucesso. Sucesso imediato, “Kony 2012” é vídeo mais visto em menos tempo na história do YouTube! Por que? Porque ele tem tudo que as pessoas querem, “humanismo”, “injustiça”, um mundo ruim, enfim, realidades que as pessoas adoram mostrar umas para as outras pra exemplificar como o mundo é injusto e você aí comprando um Nike Shox. Como se uma coisa tivesse a ver com a outra, enfim, grande parte do mundo quer julgar, e essa era/é uma oportunidade perfeita!

O sucesso também trás outras duas coisas, Haters e Falsos Gênios Inúteis. Os Haters como eu falei no texto abaixo desse aqui são apenas trolls que querem desmoralizar qualquer coisa sem nenhum motivo, como a famosa frase: “Why? Because Fuck You, That’s why!”.



Agora a pior parte, a real pior parte são os falsos gênios! Eu não sei se existem termos pra classificarmos eles, acho que não, mas a pior parte são eles! Simplesmente porque eles convencem os ignorantes sobre o que eles pensam do assunto em questão! E cara... Em qualquer assunto, qualquer assunto mesmo, existe MUITO mais ignorantes do que pessoas que sabem o que estão falando.

Aconteceu/acontece uma briga gigantesca entre os Falsos Gênios que gostaram do vídeo (Kony 2012) contra os Falsos Gênios que acharam que o vídeo é para enganar trouxas! E isso gera uma quantidade enorme de ignorantes que não sabem nem do que se trata e que utilizam de argumentos dos dois lados pra se sentirem tanto fazendo parte da coisa toda quanto pra se sentirem mais inteligentes suponho eu, não que isso seja proposital, mas é real!

E a questão não é só no vídeo do Kony, quero deixar bem claro que estou me limitando em falar apenas sobre o Kony, mas esse tipo de situação acontece o tempo inteiro em qualquer coisa séria:

- Código Florestal
- Belo Monte
- Lei dos Games
- Novas Regras do Português
- Células Troco
- Transgenia
- Copa 2014

E por aí vai! Não para, e isso é simplesmente péssimo! Porque essas pessoas geram uma quantidade enorme de seguidores e às vezes até conseguem uma maioria sobre algo que eles estão completamente errados! Os ignorantes são maquinas manipuláveis simplíssimas, qualquer argumento ruim/meia boca pode funcionar.
Mas voltando para o Kony, muitas e muitas acusações ocorreram tanto sobre a “Invisible Children” quando ao Jason Russell, fundador da Invisible Children, acusações de pessoas tanto consideradas “importantes” quanto por Falsos Gênios que acham que entendem tudo sobre qualquer coisa.

(Antes de continuar, vou comentar uma coisa. Eu tenho notado, inclusive pela minha parte que absolutamente TUDO de bom que alguém tenta fazer é rechaçado por um grupo de pessoas que está pronta pra desmerecer esse trabalho, seja aonde for, como for e do jeito que for! Pessoas que acham que sabem tudo melhor e criticam qualquer coisa que é feita para tentar melhorar algo. E em 99% dos casos essas mesmas pessoas não fazem absolutamente nada pra melhorar porra nenhuma. Só criticam TUDO!)

As acusações para com a Invisible Children ocorreram em quase todos os campos possíveis:

- Desculpa do governo americano para roubar petróleo de Uganda.
- Uso da ‘ONG’ para arrecadar fundos para os todos os tipos de situações, não só “Kony 2012”.
- União dos ativistas com Políticos corruptos da oposição de Uganda.
- Desvio das doações para a campanha “Kony 2012” para pagar os próprios salários.
- Acusação de Jason Russell de masturbação em público.
- Governo de Uganda afirma que Joseph Kony não está mais em Uganda.
- A pior parte dessa facção foi a 10 anos.

E por aí vai...

Quanto a essas acusações feitas pelos Falsos Gênios que não são tolos e ingênuos de cair numa bobagem dessas de “Kony 2012”, vamos analisá-las uma a uma.

1- Desculpa do governo americano para roubar petróleo de Uganda.

Essa situação tem um ‘q’ verdadeiro de desconfiança, pois realmente foram descobertos no início de 2006, se não me engano, grandes reservas de petróleo que deixaria Uganda como uma produtora de Médio Porte ao lado de Países como o México, o que mexeria fortemente com o investimento estrangeiro dentro de Uganda. Devo dizer que na minha pesquisa só encontrei comparações entre o Potencial de Uganda ser parecido com o Árabe em sites de conspirações e blogs sem compromisso com a verdade, além do que em todas as ocasiões o parágrafo era 100% igual. Ou seja, tudo para ser “fake” na mídia especializada achei a comparação com o México e a questão da produção de médio porte, o que transmite mais autenticidade.
Agora digo a vocês, quando fala-se unicamente em Uganda e Petróleo isso sim tem um ‘q’ de verdade, mas quando fala-se em África, esse argumento chega a ser ridículo.

Em 2002 teve um momento chamado “Boom de petróleo na África”, onde falava-se sobre a corrida e a disputa de companhias de petróleo para usufruir desse achado.

“Durante a última década, a corrida desenfreada para África viu crescer as rivalidades entre as companhias petrolíferas americanas e francesas, à medida que a tecnologia foi abrindo novos campos, nas águas profundas da África Ocidental. Seguiu-se uma rápida expansão, com cada país a convidar os principais prospectores de petróleo na esperança de um grande achado. O resultado foram anos de crescimento rápido, grandes bónus de assinatura e fronteiras indefinidas entre política e negócio.”
– Africa Confidential, Março de 2002

Em um estudo feito em 2003 sobre esse mesmo ‘boom’ era informado os países que estavam aproveitando essa grande “sorte”. Vou simplesmente copiar e colar o que foi dito em 2003.

“Há oito exportadores de petróleo na África Sub-Saariana – Nigéria, Angola, Congo-Brazzaville,Gabão, Guiné Equatorial, Camarões, Chade, República Democrática do Congo e Sudão...] [... Governos em todo o continente, Serra Leoa, Senegal, Níger e Uganda, para nomear só alguns, têm esperança de também poderem lucrar com a abundância de petróleo.”

Isso por si só mostra que não é novidade nenhuma a quantidade na África de petróleo, e mais, caso alguém pense, “Ah, mas agora eles tem o Kony para dar de desculpa”. O Kony é apenas um de vários e vários procurados pela Corte Penal Internacional. Kony está em 1º, mas até o 20º lugar mais da metade estão em diversos países da África, e vários desses países com petróleo.

Além do mais os EUA nunca precisaram utilizar de subterfúgios para inavadir qualquer lugar, os EUA invadiram o Vietnã como EUA, invadiram o Panamá como EUA, invadiram o Afeganistão e Iraque como EUA, se caso precisassem invadir Uganda, eles invadiriam como EUA, não como Invisible Children.

2- Uso da ‘ONG’ para arrecadar fundos para os todos os tipos de situações, não só “Kony 2012”.
4- Desvio das doações para a campanha “Kony 2012” para pagar os próprios salários.

A ‘ONG’ ou fundação simplesmente existe por ela mesma e com doações, quando tu como pessoa ‘doa’ tu estás passando um valor que deixa de ser teu e passa a ser de outra pessoa. O que a organização/fundação faz com a doação é de total responsabilidade da mesma, ou seja, se ela tem vários projetos e necessita diversificar as doações ela pode fazer isso sem nenhum problema a questão ética e moral cabe ao doador.

3- União dos ativistas com Políticos corruptos da oposição de Uganda.

Essa é uma questão complexa, pois não temos informação suficiente para saber ou não se isso é verdade, mas existem algumas coisas que devemos pensar. Primeira é que toda informação pode ser tanto mentira quanto verdade, e que toda a pessoa em foco vai ser passível de ser desmoralizada, seja quem for: jogador de futebol, ator, empresário e apresentador de TV.

Mas vamos para outro porém, obviamente existe a obrigatoriedade de qualquer organização/fundação ter contato com os políticos do país do qual estão se envolvendo. Supondo que existissem (e existem) fundações estrangeiras trabalhando no Brasil para uma causa ‘humanitária’... Existem governantes ativos que se safariam de ser chamados de corruptos?

Qualquer fundação trabalhando no Brasil, por mais honesta que seja seria tranquilamente denunciada a trabalhar com políticos corruptos, pois praticamente todos são, e todas as fundações precisam de uma negociação/autorização política. Agora, se aqui é assim,... Imagina em Uganda!

A pior parte é a possível ligação de Jason Russel com outras facções/grupos libertários, chame do que quiser. Que não são provadas, mas são no mínimo suspeitas.




5- Acusação de Jason Russell de masturbação em público.

Não vou nem entrar nesse mérito. O cara era ninguém e virou celebridade, imagina a quantidade de caras atrás dele para conseguir qualquer coisa que o prejudicasse, inclusive tem a foto dele pelado, imagina o que realmente aconteceu, além do fato que isso NADA tem a ver com o Kony.

6- Governo de Uganda afirma que Joseph Kony não está mais em Uganda.

Além disso estar explicito no vídeo, isso é justificativa para não prende-lo? Ou não criar uma campanha contra todos esses crimes desse cara que são verdadeiros?

7- A pior parte dessa facção foi a 10 anos.

Fato! Hoje a força de Joseph Kony é menor, muito menor, mas volto a repetir, isso é uma causa de uma organização/fundação que se propõem a prender Kony, não outra pessoa, e sim, Kony. Nada no vídeo é mentira, todos os fatos postos e descritos são fatos! Pode pesquisar, pois eu fui e achei tudo.
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O mais importante nisso tudo não é a Invisible Children, não é o Jason Russell, não é o Joseph Kony e sim a modificação no comportamento do povo, do comportamento político, é o que a internet está criando e modificando, as nossas novas possibilidades, alcances e alvos!

Hoje a internet nos une e nos fortalece sem sairmos de casa e o ativismo digitar funciona SIM, não me venha dizer que não. SIM ele funciona, a ficha limpa foi aprovada pelo Twitter e por e-mails lotados. Fato.

Eu poderia ser chamado de ingênuo como vários de vocês por ver qualidade nesse vídeo, mas a real ingenuidade está na falta de pesquisa e informação, na falta de critério e na atitude prematura.

A quantidade de notícias rolando no Facebook que são mentiras passam do absurdo, e ainda escreverei sobre isso! E a mesma coisa acontece para o Vídeo "Kony 2012".


Considero que fiz uma pesquisa básica sobre o assunto e sei que mesmo com o que pesquisei a questão da honestidade de Jason Russell não fica clara, mas fica muito obvio que a maioria das críticas não tem fundamento, o problema é que as vezes apenas uma delas precisa ter.


Além disso o que realmente fica claro é a situação de movimentar o mundo com a internet e esse meu texto exemplifica muito bem o que ninguém faz antes de opinar. Ninguém pesquisa, ninguém procura, ninguém quer saber, mas todos opinam, discutem e falam sobre, além de querer convencer as outras pessoas sobre algo que elas mau sabem.


Escrevendo esse texto ainda não me sinto suficientemente munido de dados para me posicionar sobre o fato específico Kony/Jason/Invisible Children. Com o que você sabia antes de lê-lo você se sentia?

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O importante é a modificação do comportamento de uma cultura global, o vídeo diz:

 “Você pode mudar o mundo pra melhor! Comece!”.

Sem falsas negatividades... Tu não queres um mundo melhor? 


Alguns sites que eu lembrei de deixar abertos que usei pra pesquisa, a maioria eu fechei!

http://crs.org/publications/showpdf.cfm?pdf_id=185

Um comentário:

  1. Então, quando eu vi esse vídeo, foi lá pra comecinho de março, achei cativante e talz e fui pesquisar sobre essa história pq realmente nunca tinha ouvido falar disso especificamente (apesar de td mundo saber q em vários países, não apenas os africanos rolam atrocidades do tipo).
    Daí eu me deparei com um reportagem do The Guardian sobre o vídeo, e um comentário específico calou minha boca e me fez pensar bastante.
    Vale ler o apanhado inteiro, tem bastante informação, o link é esse: http://www.guardian.co.uk/politics/reality-check-with-polly-curtis/2012/mar/08/kony-2012-what-s-the-story?fb=native

    O comentário vou postar aqui:
    "What I'd really like is for organisations like this to have a little bit more respect for individuals like ourselves who have the capability to speak for ourselves. By putting themselves as the heroes of our situation it debilitates our own ability to progress and develop our own capacity. Every time we take a step forward to rebrand ourselves, something comes along like this and uses us in their own game. We are left as the pawns in the game. Without a better brand we cannot develop better international relations. We need to change the image of Africa as a basket case.

    The man [Kony] hasn't been in the country for over six years. You know that the majority of the audience is a bunch of teens and ideological college students who just want to do good. They don't understand the nuance of the situation. They will take it as the only story about that issue. If we don't stand up as members of the Africa diaspora, the educated elite of the continent, this story won't change. We recognise the situations, we know what they are, it's not everybody's responsibility to come and rescue us. We're not babies. We have to rise ourselves otherwise we'll always be the dependants.

    All ill roads are built on good intentions. Meaning well doesn't give you the right to march into my house and tell me how to live. It does not offer you that right. Uganda is my country, my brothers, cousins and countrymen. Because I have the privilege to be in the States and I have a forum which is listened to, it's my responsibility to stand up and say something. Just because you mean good doesn't give you the right to control my life. I don't care if you mean good.

    Uganda needs to be respected as an equal participant in this, we need to be respected as equal citizens of his world. We need to understand that there is more to us than the failures of our past. The US isn't defined by civil war or 9/11. Uganda is strong, vibrant, developing technology, industry, the resilient women are rising in civil groups, that's what I want to talk about.

    Kony is nowhere near the top of the concerns for us Ugandans. If you go to Gulu, where the worst of his atrocities were committed, it's a different town. It's thriving, growing, people are trying to put their lives together. Kony is a sore in our history. We are not defined by him or Idi Amin

    What will a $30 kit do? Did I ask you to sell my story for an action kit to make uninformed college students feel good?"

    O que acha? Besos

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